...tinha mais ou menos três anos! Cabelo sujo, despenteado, a cara toda tisnada e vestia uma roupa suja e rasgada. Os pés, descalços, estavam mais escuros que a cor morena da sua pele. Lá estava ele numa rotunda de Faro, junto a uma passadeira, à espera que os carros o deixassem passar para o outro lado onde o parque de estacionamento, do Centro Comercial, lhe traria algumas moedas para entregar a um adulto, muito mais “pobre” que ele.
Passaram um...dois... três carros! Nenhum parou! Ninguém lhe deu a prioridade a que tinha direito! Chegou a nossa vez. Parei junto ao traçado do chão que aguardava ser pisado por aqueles pés pequenos. Aquela passagem de peões que estava habituada a ser pisada por sapatos, ia agora conhecer uns pezinhos descalços e sujos. Receoso e espantado iniciou a sua travessia. Lentamente, com os olhos sempre fixos em nós, foi passando. De repente vejo sair daquele pequeno rosto, trigueiro e farrusco, um sorriso lindo e contagiante. Os seus olhos esverdeados, que passavam despercebidos, brilharam mais do que nunca. O ciganito, ignorado e desprezado na rotunda, naquele instante, como que deixando sair cá para fora um grito abafado no seu peito, mostrou toda a beleza de menino inocente e bonito que estava dentro de si. Também sorri... com gosto. Percebi então que o sorriso daquela criança fora provocado pelo sorriso da minha mulher. Quando chegou ao outro lado da rua parou e ficou a olhar para nós...
Não ouvisse eu um coro de buzinas, de pessoa que nunca têm tempo para parar e apreciar a beleza daquilo que é simples e, à primeira vista, é feio, comecei a andar com o carro. A minha mulher ainda olhou para trás e fez-lhe adeus. Imediatamente ele levantou a sua mãozinha toda suja e, mais uma vez, surpreendeu-nos com aquele belo sorriso!
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